terça-feira, 16 de agosto de 2011

Verbo voltar*


Um mero dia na praia. Um mero sorriso. Uma mera simpatia. Uma mera oferta. Um mero pêssego. Um mero desejo de voltar a trás, e uma mera pessoa.
Estava calor, muito calor, e a praia de Buarcos estava ao rubro, sem vento, um dia lindo.
Estendi a minha toalha naquela areia macia com muitos segredos, com muitos tesouros ali enterrados á espera de serem descobertos.
Aproveitei o meu dia, mergulhei e re-mergulhei, corri e re-corri, pensei e re-pensei, ouvi e re-ouvi aquele som das ondas a rebentar nas rochas.
Até que me deitei na toalha, de barriga para baixo, e a modos que encostei o meu queixo á minha toalha húmida, a olhar para um casal de idade já avançada, que comiam e saboreavam os pêssegos que tinham colhido da sua horta, onde eles mesmos dedicam todo o seu suor. Falavam, falavam sobre tudo, enquanto eu os observava, debaixo da sua tenda e por cima das suas toalhas já desgastas de tanto uso, ele com um chapéu de palha e um bigode branco como a cal. Em tempos teria sido o galã da sua escola, porque ainda era uma figura bonita e marcava presença com os seus bípedes descaídos, com a sua pele flácida, de tanta idade carregar.
Até que decidi sorrir, não podia resistir perante a sua figura. Ele reparou, então colocou a mão no saco verde, pegou num guardanapo e disse-me: " Quer um pêssego menina ? Sem cerimónias ! São óptimos. Não duvides em crer em mim ! ".
Por momentos apeteceu-me mesmo aceitar aquele pêssego que brilhou quando saiu da sombra e deu de caras com o sol.
Disse-lhe que não e agradeci, ele voltou-me a dizer: " Pedi para crer em mim, e não está a fazê-lo, aceite-o, sem cerimónias ! ". Mais uma vez rejeitei a sua grande oferta.
Queria voltar a vê-lo, queria voltar a ouvir a sua oferta para a puder provar, queria sentir o sumo do pêssego a escorrer pelos cantos da minha boca.
Ele atraiu-me com a sua conversa, com o seu ar, roubara a minha atenção, fizera com que me abstraísse de tudo e só ouvisse a sua voz. Atraiu-me e encheu-me de orgulho, porque desde esse dia desejo ver o seu rosto e provar aquele pêssego que me ofereceu com tanta certeza.
Talvez este desejo e essa pessoa não sejam apenas "um mero desejo e uma mera pessoa. " esse desejo de que falo, é um grande desejo e uma grande pessoa, porque quem me dera ter provado o fruto do seu trabalho, e quem me dera ter tido oportunidade de saber o seu nome.
E ela ? Nem sequer reparei na sua companhia.

1 comentário:

Gui disse...

obrigada x) também te sigo